sexta-feira, 9 de maio de 2025

Adolescência, incels, ascensão do fascismo entre os jovens e café com teu pai

   


  A cada mês que passa vemos mais uma prova de como a misoginia está tomando parte (mais do que já estava antes) dos meninos, jovens adultos e adultos. 

    No mês de março de 2025, a Netflix estreou uma série chamada "Adolescência". Essa série gira entorno do assassinato de uma garota chamada Katie (Emillia Holliday), que logo de início nos foi apresentado o assassino, um menino de 13 anos chamado Jamie Miller (Owen Cooper). Ao decorrer da série, somos apresentados a um ponto de vista diferente do que nos é mostrado por pessoas adultas sem total noção do que se passa num ambiente escolar ou online, onde esses adolescentes estão inseridos. Nesse episódio (se eu me lembro bem, ep 2) o filho do detetive encarregado do caso, diz para o mesmo que o pai está seguindo o caminho errado da investigação, e o da uma luz para seguir para o lado certo. A série a partir disso começa a tomar um rumo diferente, e começa a tratar sobre: incels, cyberbullying e misoginia. Em NENHUM momento a série da a entender que o assassino é outra pessoa ou que tem um motivo obscuro, como abuso doméstico, assim como muitas pessoas levantaram. A série é clara e pontual, ele á matou pois, a partir do momento que ela não retribui a investida dele depois de ter passado por um momento fragilizado decorrente da misoginia do ambiente escolar, e após isso começar uma série de comentários maldosos sobre o mesmo, chamando-o de incel e por ai vai, ele se sentiu no direito de tirar a vida da mesma, isso nos é esclarecido no ep 3. Mas por qual motivo as pessoas não acreditam fielmente nisso mesmo a série sendo clara sobre as motivações do mesmo.

    Eu tenho 18 anos, concluí o ensino médio ano passado, então usarei minha experiência de vida para mostrar meu ponto de vista sobre os jovens, até porque sou uma. Quando entrei na adolescência também estava entrando na quarentena, aviamos acabado de passar pela fase que muitos nomearam de "Temercore" ou "Quebrando tabu", aquele período entre 2016-2018 onde pessoas repudiavam qualquer tipo de discriminação, sem desculpa de que era piada ou não, tendo 2019 como um respiro entre esse período e a quarentena, então, os jovens estavam ainda com o pensamento estabelecido durante o período temercore, todos sabiam que podiam ser diferentes e que estava tudo bem não seguir padrões sociais. Mas logo veio meu primeiro ano do ensino médio em 2022, parecia que todo aquele pensamento havia sido engolido junto da quarentena, meus colegas de sala faziam piadas racistas, homofóbicas e até mesmo nazistas, e nas redes sociais isso prevalece até hoje, e aumentando cada vez mais. No "X" (antigo twitter) somos enxurrados de comentários misóginos e de todas as espécies, o que era vergonhoso até tempo atrás, hoje se tornou motivo de orgulho, jovens de 13 anos em diante batendo no peito e dizendo que sim, são nazistas. 

    A partir desse pensamento contas hoje são criadas apenas para dizer o que mulheres devem se portar e como não serem vistas como rodadas. Um exemplo claro disso é um criador de conteúdo de vídeos curtos, chamado Breno Faria, onde um dos hits do momento é seu quadro denominado "Café com teu pai", referenciando o livro "Café com Deus pai". Nos vídeos desse quadro são ditas coisas como "Mulher de cabelo colorido, que se enche de piercing, ou que tem um monte de tatuagem tá dando claro sinal de ausência paterna" e "Uma porta que é aberta por todas as chaves, não serve para nada.", sempre tendo como alvo mulheres. Mas algo a ser notado em seus vídeos ou em vídeos em que outros criadores criticam o mesmo, sempre terá seus fieis escudeiros para dizer "vocês podem criticar, mas tudo o que ele diz é real" tomando como verdade absoluta tudo o que aquele criador que surgiu do nada, sem nenhuma fonte concreta ou dado social diz, apenas porquê o alvo são mulheres, porém em contraponto, quando mulheres dizem "todo homem é um estuprador em potencial" sempre terá um homem para provar que aquele fato é mentira, mesmo suas opiniões sobre abuso sexual sendo similares a de um estuprador real, vendo estupro apenas como sexo violento. Outro exemplo de criador de conteúdo que ficou popular por dizer coisas desrespeitosas sobre mulheres, é o Raim Santos, onde a frase do momento é "Nem toda mulher que tem tatuagem é puta, mas toda puta tem tatuagem", que novamente seus seguidores viram isso como fato. 

    A partir desses dois pontos, é certo concluir que, o publico não conseguiu enxergar as motivações do personagem Jamie ter cometido o assassinato pois os mesmos não enxergam misoginia como um problema real, o que incapacita as pessoas de enxergarem que sim, existe a possibilidade de jovens adolescentes matarem mulheres por misoginia e que cada vez mais isso vem se tornado algo comum em nossa sociedade, tendo em vista que criadores de conteúdos são aplaudidos todos os dias por dizerem como mulheres devem se portar e agir diante a homens perfeitos.

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