terça-feira, 22 de julho de 2025

Pobre não pode/sabe "vagabundear"

    Antes de deixar de usar redes sociais, não pude deixar de ver a noticia de que 70% dos Deputados federais eram contra o fim da escala 6x1 e que inclusive o Deputado Kim Kataguiri era à favor da escala 7x0. E quais devem ser as consequências desses fatos na vida do brasileiro?
    Segundo a CNN, o Brasil ocupa o 7º lugar no ranking de países com as maiores jornadas de trabalho semanais, ganhando inclusive da Coreia do Sul e Japão, países que são frequentemente citados quando o assunto são rotinas cansativas de trabalho. Apesar da posição elevada no ranking, participando do Top 10, ainda assim, o brasileiro tem um discurso muito característico para se referir a nós mesmos sobre esforço no trabalho, aquele que todos já ouviram: O brasileiro é vagabundo. Uma vez, Ailton Krenak disse: "O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver com a ideia de viver à toa no mundo. Acham que o trabalho é a existência deles. Eles escravizaram tantos os outros que agora precisam escravizar a si mesmos". Com isso, voltamos a questão feita inicialmente no texto, "e quais devem ser as consequências desses fatos na vida do brasileiro?"



    Uma empregada doméstica, preta, que saiu de casa cedo para morar no trabalho, cresceu, agora ela é assombrada pelo espírito da sua patroa, ─ sendo mais ampla ─ pelos ricos. Toda vez que ela senta no sofá de casa para ver novela, aquela voz chamando-a de vagabunda sussurra em seu ouvido "Vai trabalhar, que não te pago para ficar vendo novela", então, sua vida que já não é mais ganha limpando a casa de gente rica (e branca), vive a mercê de mostrar para todos a sua volta que não é vagabunda não, que trabalha e muito não é como essa moçada de hoje em dia que só quer saber de festa e mais nada. Será que ela terá liberdade algum dia? 
    Pessoas que aproveitam a vida, são em sua maioria associadas a desemprego, felizmente não é assim que funciona, muitas pessoas em meio uma rotina exausta buscam aproveitar esse tempo que tem livre. Na música "Amiga vagabunda", o cantor André Prando fala que não importa o que ele faça se não passar oito horas sentado numa cadeira atrás de um balcão fazendo todo santo dia a mesma coisa, ele é um vagabundo. E tenho certeza que quem o chama de vagabundo, não são os 70% de deputados que votaram contra o fim da escala 6x1, foram pessoas comuns, a ex-empregada doméstica, os nordestinos que foram para São Paulo buscar por uma vida melhor nos anos 80, são essas pessoas que reproduzem esse discurso, de que devemos trabalhar todo santo dia, quem tem tempo para sair é vagabundo, ter hobby é coisa de desempregado. Enquanto isso, os deputados estão ganhando seus 40 mil reais todos os meses, trabalhando 3 vezes na semana, por que não podemos também aproveitar a vida? Mas será que se tivéssemos a oportunidade, o que faríamos com esse tempo tão precioso que somente os ricos tem oportunidade? Para essa lei ser aprovada, a população também tende entender que está tudo bem em não fazer nada.
 

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