sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Carência de pertencimento transforma pessoas pardas/negras, em "indefinido"

Chavoso da USP - Thiago Torres
     Hoje estava vendo um vídeo do Chavoso da USP, e notei que a tonalidade da nossa pele é parecida, ─ pelo menos quando mantenho uma rotina fora de casa, atualmente estou com cor anêmica ─ e o que me fez abrir o notebook para blogar sobre isso, é o fato do Thiago se classificar como negro, enquanto eu tenho crises de noite por medo de, se caso, eu passar na faculdade, ser rejeitada enquanto parda. E isso faz com que eu me questione, se eu tivesse tido uma vida próxima da negritude, eu seria negra?
    No artigo, "O paradoxo da miscigenação: identidades, desigualdades e percepções de discriminação entre pardos brasileiros." escrito por Graziella Moraes Silva e Luciana T. de Souza Leão, elas dividem a auto classificação de pardo em três partes: Negros-pardos, Pardos-negros e Pardos-pardos. Onde juntaram grupo de pessoas que resultou na conclusão dessas três classificações.

Negros-pardos:
"Indivíduos que espontaneamente se identificaram como negros, mas se classificaram como pardos de acordo com os critérios do IBGE. Para esse grupo, a identificação como negro é vista como uma opção ou como resultado de um processo de conscientização, e a identificação como pardo é vista quase como um fato objetivo. Nesse sentido, muitos entrevistados justificaram sua identificação racial como pardo, pois era a cor presente na certidão de nascimento, outros fizeram alusão à cor da pele para relatar que “não eram tão pretos/escuros assim”, outros ainda destacaram o fato de terem um dos pais brancos."

Pardos-negros:

"Em muitos sentidos esse grupo de entrevistados aproxima-se dos pretos-negros da classe trabalhadora. Para ambos os grupos a identidade racial só é problematizada em momentos de discriminação racial. A experiência de discriminação racial faz com que os dois grupos se aproximem ao se sentirem estigmatizados em oposição aos brancos. Uma hipótese para interpretar esse dado é que o repertório disponível para se falar de discriminação racial no Brasil faz uso do termo negro, e não dos termos pardo ou não branco. Dessa forma, ao falarem sobre discriminação, ou definirem sua identidade racial a partir da discriminação, os entrevistados que inicialmente se identificaram como pardos, passam a se ver como os negros."

Pardos-pardos:

"Entre os entrevistados que se definem como pardos-pardos, é possível notar certa resistência à identificação como negro – o que poderia ser interpretado como um suporte para a tese sobre a alienação dos pardos presente na literatura. No entanto, de forma mais consistente entre os nossos entrevistados, o que identifica esse grupo é a percepção de que não sofrem discriminação racial."

Em resumo, o que une negros-pardos-pardos-negros, é assumir que existe descriminação, e como a descriminação está amplamente ligada a negritude, se identificam como negros, além de um fator que seria a classe social, negros-pardos e pardos-negros são pessoas que muitas vezes ascenderam socialmente, e sentiram na pele que está entre brancos faz deles negros, pois para um racista não existe muito negro e poucos negro, existe apenas aquela cor que ele considera inferior a sua. Enquanto pardos-pardos, acreditam que não existe racismo com pardo, e a classe social deles é em sua maioria pobre.

"Em suma, para o grupo de pardos-negros, ser pardo está relacionado com a cor da pele, o registro da certidão de nascimento, ou ter um dos pais brancos – é quase um fato objetivo. Ser negro, por sua vez, está associado a ser discriminado e a reconhecer os episódios de discriminação racial. É exatamente a ausência do reconhecimento da discriminação racial que separa o grupo de pardos-negros do próximo grupo que identificamos, os pardos-pardos." 

    Agora voltando para meu caso, me faz pensar, eu não nego o racismo, mas será que consigo apontar ele, pelo menos comigo? Se eu pudesse me encaixar dentro de alguma dessas três classificações, eu seria parda-negra, sabe aquele senso negro de que você não pode fazer nada suspeito, e que deve sempre sair arrumado de casa? Sinto que carrego isso comigo, de que forma isso poderia ter sido passada para mim ─ minha mãe mesmo não sendo ligada a cultura negra, e se dizendo de direita, tem total noção da descriminação. Quando eu estudava em escola particular ocorreram duas situações comigo, a de zoarem meu nariz por ser largo e de zombarem meu cabelo, mas criança reproduz o que aprende, ou dentro de casa ou na rua, e naquele momento eu era negra, despenteada e do nariz de batata. A convivência com pessoas brancas me deixou mais parda-negra que nunca, mas ainda sei que onde habito, posso ser lida como paçoca, morena, café com leite, e isso é o que me amedronta sobre cotas.

    A importância de unir forças pardas e negras vai além da militância do twitter, pessoas pardas sofrem racismo sim, medir quem sofre mais e menos preconceito é fazer competição de quem sofre mais, no final, ninguém ganha.

 A pessoa, muitas das vezes, pode ser parda e se sentir uma pessoa negra, você tá de acordo comigo? É só ter uma pessoa mais clara que ela que ela vai se sentir negra [encarregado de serviços gerais, 51 anos].

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